Quem foi temperar o choro acabou salgando o pranto

Albert Camus, célebre filósofo existencialista e autor de obras como O Mito de Sísifo, é conhecido por suas reflexões sobre a busca humana por sentido em um universo que parece indiferente. Embora ele não tenha formulado diretamente a pergunta “Por que é que a gente sofre tanto?”, essa angústia permeia seus escritos. Camus enxergava a vida como um confronto constante entre a necessidade de significado e a aparente ausência de respostas.

Para ele, o sofrimento é uma parte inevitável da condição humana. Buscar uma justificativa divina ou lógica para a dor frequentemente leva ao silêncio, um vazio que pode desanimar, mas também despertar a “revolta” — uma postura de aceitação ativa da vida, mesmo sem respostas definitivas. Para Camus, viver plenamente, mesmo diante do absurdo, seria uma forma de vitória.

Essa sensação de mistério e falta de respostas também se reforça diante das descobertas científicas sobre a matéria escura, que compõe a maior parte do universo, mas permanece invisível aos telescópios. Albert Einstein referiu-se a esse imponderável como “energia não congelada”. Esse conceito nos leva a questionamentos semelhantes aos que Camus propunha: há algo além do que podemos ver, mas ainda escapa à nossa compreensão.

Ariano Suassuna, com sua sagacidade e ligação com a cultura nordestina, trouxe uma reflexão emblemática ao popularizar a expressão “Quem foi temperar o choro acabou salgando o pranto.” A frase revela uma tentativa frustrada de suavizar a dor, que, ao invés de desaparecer, acaba se intensificando. O sofrimento, portanto, permanece como uma presença constante na vida.

Por outro lado, Allan Kardec, filósofo francês que fez célebres indagações àqueles que “habitavam o país da morte”, apresenta uma visão diferente. Para ele, o sofrimento não é algo aleatório, mas parte de um processo evolutivo das almas. Kardec defendia que não apenas os seres humanos, mas até os mundos passam por ciclos de extinção e renascimento, numa dinâmica que envolve evolução e renovação contínuas. Essa visão dialoga com as ideias de Charles Darwin sobre a evolução dos animais e reforça a ideia de um universo em constante aprimoramento.

Se tudo está em movimento e transformação, existe uma ordem que permeia essa evolução. São Tomás de Aquino, um dos maiores pensadores da Escolástica, propôs cinco vias para demonstrar a existência de uma inteligência suprema. Suas reflexões passam pelo movimento, a causalidade, a contingência, os graus de perfeição e a finalidade. Mesmo que esse interlocutor divino permaneça invisível, suas respostas se manifestam nas leis naturais, mostrando que existe uma inteligência ordenadora que mantém o universo em constante renovação.

José de Alencar, em suas narrativas literárias, também refletiu sobre a inevitabilidade da dor. Seus personagens frequentemente enfrentam situações em que a tentativa de suavizar o sofrimento falha, reforçando a ideia de que ele é parte integrante da vida humana. Essa perspectiva ressoa com a visão de Camus ao reconhecer que a dor, muitas vezes, é uma companhia inevitável.

Por fim, tanto em Camus quanto em Alencar e Allan Kardec, persiste a mesma reflexão: o sofrimento faz parte da existência. Cabe a cada um decidir se enfrenta essa condição com revolta, resignação ou a esperança de um propósito maior.

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*Abílio Wolney Aires Neto é Juiz de Direito da 9ª Vara Civel de Goiania. Cadeira 9 da Academia Goiana de Letras, Cadeira 2 da Academia Dianopolina de Letras, Cadeira 23 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás-IHGG, Membro da União Brasileira de Escritores-GO dentre outras. Graduando em Jornalismo.Acadêmico de Filosofia e de História. 15 titulos publicados.

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