Eduardo Bolsonaro faz périplo nos EUA por sanções a Moraes

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JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) ampliou a atuação nos Estados Unidos e fez um périplo nas últimas duas semanas para conversar com autoridades americanas sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O filho de Jair Bolsonaro (PL) tenta convencê-las de que o magistrado impõe censura e tenta fragilizar a oposição no Brasil. A intenção é conseguir algum tipo de sanção ao ministro e, sobretudo, gerar algum alívio nas acusações que o ex-presidente enfrenta -embora isso enfrente muitos obstáculos.

O parlamentar esteve com deputados e senadores, além de integrantes do Departamento de Estado, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores -que não quis dizer quem são.

Eduardo viajou aos EUA pela terceira vez no ano, para participar da Cpac, maior conferência conservadora do mundo, em que discursou, criticou Moraes e defendeu seu pai. Na semana anterior, esteve no país porque tinha encontros marcados com autoridades. Antes, viajou para participar da posse de Donald Trump.

O embate com Moraes nos EUA já chegou aos tribunais depois que a empresa de mídia de Trump, a Truth Social, e a Rumble, plataforma de vídeos, recorreram à Justiça na Flórida para que as ordens do ministro sejam declaradas ilegais.

Mas bolsonaristas trabalham por medidas do Parlamento americano e também decretos do Executivo.

“A gente vai fazendo alertas, criando consciência. É isso que a gente tem feito aqui: batido de porta em porta. As portas estão abertas para nós. A gente está muito feliz com esse novo governo. Somos bem recebidos”, disse Eduardo à reportagem.

Jair Bolsonaro foi denunciado na semana passada sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após perder as eleições de 2022, para impedir a posse de Lula (PT).

Para o deputado, se houver uma sanção a Moraes, como a cassação do visto para entrada nos Estados Unidos, isso pode acuar a atuação de outros ministros do STF, impactando no processo de Bolsonaro.

Na semana passada, a deputada republicana Maria Elvira Salazár reapresentou um projeto de lei que visa cassar o visto de autoridades estrangeiras que violem a primeira emenda, de liberdade de expressão, nos Estados Unidos. Para Eduardo, a ordem de Moraes no ano passado para suspender o X (ex-Twitter), que levou a um embate entre o ministro e o bilionário Elon Musk, dono da rede, se enquadraria neste caso.

O filho de Jair Bolsonaro esteve com Maria Elvira na semana passada e depois procurou o deputado que preside o órgão equivalente à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), por onde o projeto precisa passar. Eduardo diz que o parlamentar se comprometeu a pautar o caso para análise do colegiado.

Trump também pode tomar uma medida executiva para impor sanções a Moraes, como fez com o presidente do Tribunal Penal Internacional, sob o argumento de que a corte tem como alvos os EUA e seus aliados, como Israel.

O presidente impôs sanções financeiras e de visto a indivíduos que auxiliem nas investigações do TPI sobre cidadãos dos EUA ou seus aliados. Também congela ativos de alvos da medida e as pessoas não poderão viajar ao território americano.

Por enquanto, uma pessoa com acesso a Trump diz que ele adota cautela no caso para evitar criar problemas na relação bilateral com o Brasil. Por mais que Lula não seja alinhado politicamente a Trump, o Brasil não é tratado como um país inimigo e tem muitos acordos com os EUA.

“Você imagina, os ministros da Suprema Corte com muita frequência fazem palestras no exterior. Sem contar que vai ser uma mancha na imagem dele. Você imagina um ministro que é sancionado por uma questão de censura falar sobre liberdade num evento em Paris, em Berlim, em Londres. Não vai”, aposta.

Apesar da expectativa, o clima no STF hoje é para aceitar a denúncia contra Bolsonaro, que, se condenado, pode ser preso. Além disso, um grupo de magistrados da corte tem atuado com forte espírito de corpo, tentando demonstrar união para se proteger e poupar o tribunal de críticas.

A atuação do deputado apareceu durante a Cpac, na última semana. No sábado (22), Trump agradeceu a Eduardo pela presença no evento e falou para ele mandar um “oi” ao pai. O presidente dos Estados Unidos, porém, não fez menção a Moraes nem à denúncia contra Jair Bolsonaro.

O Brasil também esteve presente no discurso do presidente da Argentina, Javier Milei, que endossou o discurso infundado de bolsonaristas e trumpistas de que ONGs, entre elas a Usaid, teriam financiado fraudes eleitorais no Brasil.

Ainda no sábado, o empresário Patrick Bet-David, que tem um podcast de direita nos EUA, o PBD, fez um discurso de cerca de 20 minutos em que falou só do Brasil. O empresário pintou um cenário como se o país vivesse quase uma ditadura, dizendo ter sido aconselhado a ter sempre um advogado à disposição no Brasil e andar de carro blindado em Brasília.

“A gente está indo nas pessoas certas que tem um interesse nessas pautas de América Latina, de liberdade de expressão, de preservação das liberdades, contra o ativismo judicial. Então a gente está se movimentando bastante. E essas pessoas têm acesso a autoridades”, diz Eduardo.

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