PM diz em depoimento que universitário baleado no RJ estava armado

igor melo carvalho é baleado por policial militar reformado

BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O policial militar aposentado Carlos Alberto de Jesus, 61, afirmou em depoimento que fez dois disparos após o estudante universitário Igor Melo de Carvalho sacar uma arma de fogo.

A declaração consta em depoimento dado após Igor ser baleado, na madrugada desta segunda-feira (24).

Segundo a família de Igor, no momento dos tiros, ele retornava para a casa em uma moto de aplicativo após o trabalho.

A família afirma que Igor havia sido confundido com um assaltante pelo policial. A arma que o PM aposentado diz ter visto não foi encontrada.

Igor tem o canal Informe Botafogo, cursa publicidade e também trabalha como inspetor de faculdade e garçom. A sua mulher, Marina Moura, diz que seria um caso de racismo. “Ele quer ser jornalista esportivo, trabalha como inspetor da faculdade e complementa a renda como garçom e ambulante no Carnaval. O que fizeram com meu marido é racismo, é uma injustiça, a bala sempre atinge um corpo preto”, afirmou.

Em seu depoimento, ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, o policial disse que “por volta das 23h00, deixou sua companheira na Rua Irani e saiu para comprar pizza”. Ao retornar, a mulher teria afirmado que assaltantes tinham levado o seu telefone celular.

O agente disse, então, que pegou seu carro e, na companhia da sua mulher, foi procurar os assaltantes.

Em determinado momento, encontrou os dois homens passando em uma moto, que teriam sido identificados pela mulher.

Na sua versão, o homem disse que abordou a dupla e se identificou como policial. Em seguida, “ao perceber que o nacional da garupa, de camisa amarela, sacou uma arma de fogo, efetuou dois disparos”, diz trecho do documento.

Ainda segundo o agente, os homens correram e pularam um viaduto. Outros carros teriam parado e afirmado que a dupla estava fazendo um arrastão.

Depois, Carlos Alberto afirmou que encontrou policiais militares que teriam prendido um dos suspeitos, enquanto o baleado estava no hospital. Na delegacia, ele declarou ter reconhecido o motorista da moto.

O celular que teria sido roubado e a arma não foram encontrados.

Ainda segundo o policial, o homem que conduzia a motocicleta teria pedido desculpas pelo suposto assalto. A Polícia Civil informou que o condutor não quis prestar depoimento. Ele está preso e não tem advogado constituído.

As informações do depoimento de Carlos Alberto foram corroboradas por sua companheira. Ela teria reconhecido as cores das roupas usadas pela dupla e a cor da moto em que eles estavam. Ainda segundo ela, Igor é quem teria apontado a arma e pego seu celular.

O caso é acompanhado pela CDDHC (Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania) da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Em nota, a deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da comissão, afirmou que “é uma vergonha que um trabalhador negro, voltando para casa, seja brutalmente atacado com um tiro nas costas por quem deveria proteger a população. Esse caso escancara o racismo que permeia nossas instituições e demonstra o despreparo de agentes que fazem da cor da pele um critério de suspeição e execução”.

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