Medo domina bairros alvos de ataque de facções por acesso à internet no CE

MAURÍCIO MOREIRA
FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS)

A tentativa do Ceará de conter os avanços de facções criminosas na disputa territorial pela oferta de serviços de internet ainda não teve efeito na rotina de medo de moradores de Fortaleza e de municípios da região metropolitana.

Até o dia 28, 40 pessoas haviam sido presas sob suspeita de envolvimento nos crimes, de acordo com a Polícia Civil. A facção autora dos ataques, segundo a investigação, cobrava, com ameaças, uma taxa de R$ 20 por cliente às empresas. Se a provedora se negasse a repassar esses valores, eram destruídas as redes de fibra ótica, caixas de transmissão e antenas, além de suas lojas serem alvo de invasão e pichação.

Segundo a gestão do governador Elmano de Freitas (PT), a resposta tem sido intensificar ações de combate à atuação das facções na disputa pela internet, ofertar benefícios para os agentes da segurança e realizar concursos para ampliar o quadro.

Bairros como Carlito Pamplona, Pirambu, Jacarecanga, Sapiranga e Farias Brito, em Fortaleza, continuam sem ter a liberdade de escolher seu provedor de internet e também ficando sem acesso à rede, mesmo após três fases da Operação Strike e a prisão dos suspeitos. Alguns moradores relatam receio de sair às ruas após o anoitecer, mesmo de carro.

No Pirambu, criminosos ordenam, quando querem, toques de recolher para moradores e comércios. Em 2024, chegaram a queimar uma retroescavadeira utilizada em uma obra da prefeitura, na orla da zona oeste da cidade. O crime ocorreu pela manhã, comprovando o domínio dos criminosos no bairro.

Por lá, o clima é de tensão, com sobrevoos diários de helicópteros da Ciopaer (Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas). Segundo informantes da Polícia Militar, os voos são de reconhecimento e para facilitar o apoio aéreo aos agentes de segurança, caso necessário.

Um dono de restaurante no bairro, onde mora há quase 40 anos, relata que ele e seus vizinhos foram obrigados a contratar o serviço de quem pode atuar na área, porque as outras empresas saíram da região.

Segundo ele, a troca do provedor de internet na sua residência foi automática. A própria empresa, afirma, cancelou o serviço e passou para outra.

Segundo a polícia, os criminosos aproveitam a madrugada para danificar os equipamentos e os fios de instalação das empresas “proibidas”.

No caso da Brisanet, as novas instalações e reparos estão sendo feitos sob escolta de segurança particular. A empresa é uma das maiores provedoras de banda larga do Nordeste e está listada na Bolsa de Valores.

O mesmo método criminoso é aplicado no bairro Farias Brito, vizinho ao centro de Fortaleza. Foi lá onde um carro da empresa Giga+ foi incendiado, na semana passada, a poucos metros da avenida Bezerra de Menezes, umas das principais vias da cidade. O ataque ocorreu na rua Boa Viagem, queimando as paredes de uma agência de banco.

Já na comunidade de Uruca, no bairro Sapiranga, e no Pecém, bairro de São Gonçalo de Amarante (a 59 km de Fortaleza), moradores relatam que tiveram suas casas invadidas por criminosos para retirarem o aparelho da Brisanet.

Os ataques chegaram a deixar sem internet o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, equipamento que conta com investimentos bilionários para a produção de hidrogênio verde.

Das empresas afetadas pelas facções, a Brisanet é a única que oferece o serviço de internet a rádio, que utiliza o chip 5G, em vez de cabos, um acesso similar ao utilizado pelos celulares. O serviço é geralmente oferecido em localidades onde os cabos ainda não foram instalados.

No entanto, a empresa estaria ofertando esse serviço em bairros dominados pelas facções na tentativa de driblar as proibições. A instalação desse modelo é simples, com um roteador dentro da residência e, em caso de manutenção, o cliente leva o equipamento a uma unidade da empresa.

Em Capuan, bairro de Caucaia, outro morador conta que desde o dia 11 de março está sem o serviço de internet. Os equipamentos foram arrancados dos postes. Inicialmente, ele relata, a empresa disse que resolveria a questão, mas com o passar dos dias, os atendentes assumiram que o problema não seria resolvido e ofereceram o cancelamento do contrato sem custos.

Além dos carros incendiados, as facções deixaram 90% do município de Caridade (a 97 km de Fortaleza) sem internet por 24 horas.

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